Por que aprender a pedir para quem está disposto a doar ainda é um grande desafio para instituições sem fins lucrativos?

Por *Custódio Pereira

Em 2020, o capitão Tom Moore, veterano da Segunda Guerra Mundial, completou 100 voltas em seu jardim antes de seu 100º aniversário. O esforço tinha uma grande causa: arrecadar fundos para o NHS Charities Together, instituição com sede no Reino Unido que apoia o trabalho do Serviço Nacional de Saúde. Além de levantar quase 33 milhões de libras esterlinas para o combate ao Covid-19, Sir Tom Moore encheu o país de esperança com a frase “Amanhã será um bom dia”.

A iniciativa do capitão é um dos exemplos de ações de captação de recursos que atingiram valores expressivos durante a pandemia. No Brasil, o Monitor das Doações COVID-19, levantamento realizado pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), mostra que, até o final de julho de 2021, foram doados mais de R$ 7 bilhões, sendo 73% para instituições de saúde e 20% para assistência social. Do montante, cerca de 90% vem de pessoas jurídicas.

Historicamente, situações emergenciais tendem a aumentar a mobilização em prol de uma causa. Mas, de forma geral, o brasileiro é solidário? De acordo com o Ranking de Solidariedade 2021, produzido pela Charities Aid Foundation (CAF), o Brasil ficou em 54º em uma colocação com 114 países. A pesquisa questiona se o entrevistado, no mês anterior à conversa, ajudou de alguma maneira um desconhecido, doou dinheiro ou fez algum trabalho voluntário. Como instituições do terceiro setor, dependemos do apoio da sociedade para ampliar o alcance dos nossos serviços e atender mais pessoas que precisam. Para muitas organizações, a captação de recursos é questão de sobrevivência.

Sabemos que os desafios são enormes. Estudo realizado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) em 2015, mostra que 87% dos doadores não acham que se deve falar sobre doação, e ainda existe uma cultura baseada em caridade. Para completar, o Brasil ainda tem uma legislação que não beneficia o doador.

Durante cursos e palestras sobre o tema, sempre reforço que se soubermos pedir, as pessoas estarão dispostas a doar. Para isso, é fundamental que a instituição tenha credibilidade e invista em transparência, comunicação e tecnologia. E o mais importante: o departamento de captação de recursos não é toda a organização, mas toda a organização é o departamento de captação de recursos. Engajar os colaboradores em prol da causa é o passo número um para um projeto bem-sucedido.

Por último, vale reforçar a necessidade da profissionalização do setor. Ainda temos uma discrepância enorme em nossas entidades, algumas com departamentos estruturados de captação e a maioria ainda tentando organizar as atividades. Diante das especificidades da legislação brasileira e a resistência da sociedade em contribuir com a nossa causa, precisamos investir na formação de profissionais com as habilidades e competências necessárias para o trabalho.

* Presidente do Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (Fonif), autor do livro “Sustentabilidade e Captação de Recursos na Educação Superior no Brasil”. Professor do curso “Fundraising – Captação de Recursos para Organizações sem Fins de Lucro e Filantrópicas”, uma parceria do Fonif, do Semesp e da ANEC.
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